"Bootlegs são gravações de áudio ou vídeo do trabalho de um artista/banda musical, sendo realizadas diretamente de um concerto ou de uma transmissão via rádio/televisão. Estes últimos podem incluir entrevistas e materiais inéditos, que foram descartados por serem considerados ´inadequados´ para um produto comercial, bem como passagens de som, ensaios, etc.
O termo bootleg tem sua origem na famosa obra da literatura inglesa ´As Viagens de Gulliver´, escrita em 1726 por Jonathan Swift, onde no mundo ´smuggling´, os ´smugglers´ (contrabandistas) escondiam o fruto de suas atividades ilícitas dentro de baús, balsas e canos de botas (´boots´), para não serem presos. Com o passar do tempo, o ´boot´, passou a ser gradualmente usado como adjetivo para descrever artigos de origem ´dúbia´ e acabou por se tornar um termo conveniente para esses tipos de gravações emitidas por selos independentes, uma vez que são realizadas sem o consentimento do artista ou da gravadora. Inicialmente, bootlegs eram feitos em vinil e/ou em fitas cassetes.
Em ´THESE BOOTS ARE MADE FOR DIVIN´ é mantida a ´aura´ de tais registros entretanto a partir de iniciativa do próprio
Baal des Quat´z´arts.
A perspectiva é de descartar a assepsia dos estúdios de gravação ou mesmo de capturas ao vivo ´oficiais´ e assim prospectar inusitadas possibilidades de recriar composições sob vertentes (pode-se dizer) ´heterodoxas´. Certa e propositadamente distantes de quaisquer zonas de conforto para o dito público.
Um exemplo aqui é o dos vocais e da inteligibilidade dos poemas cantados. Se as letras contidas em respectivas informações das faixas forem acompanhadas, o fio das meadas melódicas poderá ser até mesmo (direta ou intuitivamente) decifrado. Mas em inúmeras passagens a voz é invaginada pelas camadas etéreas das peças sonoras do presente EP a ponto do canto se metamorfosear em (um outro) instrumento e não mais se comportar como veículo a uma lexical mensagem oralizada. Observem que às vezes os vocais são de todos os componentes interpretativos o mais espacialmente antípoda assim como, quando detectados, percorrem a sinuosidade dos biombos harmônicos como num jogo de ´Hide-and-Seek´. ´Aktion´ perpetrada por Otacílio Melgaço que, dentre outras, justifica o título da Obra.
A audiência que, através desses bootlegs baalescos, é levada a abrir mão da límpida discernibilidade dos elementos estruturais das 4 faixas (exceção à introdutória; menos em ´The Little Girl...´; mais em ´Another Hero...´ e sobretudo em ´Spirits...´) é também desafiada ora a desvendar (retirar a venda d)os cantares, ora a construí-los mentalmente simultaneamente a suas performances! Nesse sentido, o prisma - que documenta o grupo em ação (ao vivo) e que traz como encadeamento dorsal um elo ´noise´ e, por fim, tudo sob um manto lo-fi - é impecável. Ou repleto dos adoráveis ´pecadilhos´ necessários para a atitude sui generis, intrigante, mesmerizante dos 4´Arts.
E assim amplifica-se a reverberação melgaciana:
´Para um novo vinho, um novo cântaro!´" (Caio Campbell; semiólogo e músico anglo-brasileiro)
Ross J. Farrar of Ceremony creates dubby outside punk evoking the minimalism of Young Marble Giants on his second solo record. Bandcamp New & Notable Apr 27, 2024
Cermony's Ross John Farrar experiments with synths, bass, & percussion to make music similar to that from the '80s homemade tape scene. Bandcamp New & Notable Mar 30, 2023